segunda-feira, 20 de setembro de 2010

As pessoas grandes



Temos uma necessidade extrema de sabermos o que acontece, o por quê acontece.
Muitas até tentamos prever o que irá acontecer.
Planejamos.
Controlamos todos os fatores ao nosso redor.
Domínio sobre o meio.
Quer saber? Não quero ser mais uma pessoa grande.
Quero ser Grande.
As pessoas Grandes não se importam com o futuro, pelo menos não com os minimos detalhes dele. Elas simplesmente vêem o presente como a maior dávida que temos.
Elas fazem o agora.
Agora.
Existiram muitas vezes nessa vida em que fui uma pessoa grande.
Mesmo criança, por vezes me via agindo como uma pessoa grande.
As pessoas grandes não nascem grandes: aprendem a ser.
De fato:


As pessoas grandes nem sempre são Grandes. 

Quem percebe a grande ironia de Antonie, entende muito bem isto.
Como um belisco discreto no orgulho adulto, ele evoca os grandes justamente como pessoas de alma pequena. Aquelas sem a alma do Pequeno Príncipe.
E nos diz, assim, discretamente, que nossa alma costumava ser maior à infância.
Por que?
Porque as crianças têm esperança.
Elas só não as têm, como são as representantes vivas dela.
Hoje entendo o que ele quis dizer: idade não quer nem de longe dizer o que é sabedoria.
Sabedoria não quer nem de longe dizer ser grande.
Pelo contrário.
O verdadeiro sábio sabe ser pequeno. Reconhece suas falhas e sabe que deixar o orgulho de lado sendo simplesmente pequeno para alguém é muitas das vezes a solução mais razoável de todas...
Portanto, digo: deixem-se ser pequenos.
No início é difícil, aceitar os que as pessoas grandes fazem com os nossos corações.
Mas todo coração de pequeno príncipe hábde ter uma rosa lhe esperando com todo amor e carinho.
Todo coração de Pequeno Príncipe há de ter um amigo aviador.
Todo coração de Pequeno Príncipe há de converter uma raposa.
Convertamos assim, as raposas do mundo com nossos exemplos.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Juramento III - O Médico e o Monstro


 Exercerei a minha arte com consciência e dignidade.
 Às 17h daquela tarde meio nublada o dia parecia normal. Tudo caminhava para a ordem natural das rotinas, sem planos de transgredir os planos. Nós sempre vivemos com planos, mesmo invisíveis, esperando que as coisas sempre sejam "iguais".
O sol estava à pino. Ainda havia muita areia para transportar do caminhão para a construção.
De repente o mestre de obras o chama.
"Oh Manél, tua esposa no telefone. Urgente."
Mas o que que essa mulher quer? A revolta durou menos de 5 segundos ao telefone. Tomou conta a de preocupação, e quem diria, o desespero.
Meu pai caído no chão. A mulher não sabia o que fazer.
Ligou para a ambulância. Mas cadê a droga da ambulância.
Ele pegou as coisas e saiu do trabalho. Tinha falado com o chefe. Sabe que morte o mestre não dizia que era desculpa. Tinha como atestar.
Mas quem ali tava falando de morte meu Deus!?
"Eu tô ficando doido!" pensou.
Correu o que podia, mas o ônibus não obedece as urgências da vida.
No meio do caminho a esposa liga informando o hospital em que ela estava. Hospital ? O "Matadouro" da cidade. Vamos ter fé em Deus.

Às 17 h da tarde dublada seu Manuel estava vivendo mais uma daquelas crises de terceira idade: sentia-se inútil. As pessoas já o tratavam como "caduca". Falavam alto e devagar com ele. Escondiam dele as coisas.  Paravam de tocar em certos assuntos quando ele se aproximava. Ele era teimoso. Não ia dar o brao a torcer assim facil não. Anos de trabalho nas costas. Esses moleques tem que me respeitar.
A nora veio. Ele nem sabia como tinha começado a briga. Só sentiu a dor. Aliás, só sentiu o começo dela. O resto da dor ainda iria, horas, dias depois, permanecer no ar, no lar, assim nas pessoas...
"Fui eu a culpada!" entre as lágrimas, o desespero, a dor, o arrependimento, a salada de sentimentos não adeixava manter o controle. Só conseguia chorar, e segurar o seu Manuel nas cordas da ambulância. O técnico olhava para ela com ar de consolo, enquanto se movia de um lugar ao outro, mas já tinha desistido de falar. Agir era mais confortável. "Tô fazendo o que posso, mas sem médico, esse velho não vai resisitir muito não ...."
O barulho da sirene da ambulância era o som mais confortante.

Sentado no estar da Unidade, o médico só ouvia uns bipes contínuos dos monitores da sala, o que já era comum aos seus ouvidos de intensivista. Ruim mesmo era quando batiam as portas ou o som das ambulâncias com sirenes altas.
O barulho da sirene da ambulância sempre fora o som mais desconfortante.

Seu Manuel entrou calado, mas todo o resto fez barulho por ele. Sirene. Maca. Porta. Povo. Faz. Pega. Ajuda. Acude. Leva. Portas.
O Caos.
O médico levanta. A nora corre, vai atrás do "Doutor".  Eles se encontram. 
E durante 3 segundos olham-se. 
Reconhecem seus papéis ali. Era tudo que ela queria.
"Doutor, salve ele por favor!"

...

Depois do Caos vem a calmaria.

Se querem saber o que aconteceu com o seu Manuel, digo: é o que menos importa. O destino do seu Manuel já estava traçado no momento em que ele cruzou a porta. Ou não? 
No momento em que ele caiu na sua casa.
Mas, o destino de todas as outras pessoas ali seria o mesmo? Aí sim digo: depende.
Você procura alguém que mude esse destino. 
Alguém que mexa naquela história que está para ser triste. 
Alguém que enxergue uma solução para o problema. Um salvador.
O "Doutor".
Indivíduo o qual pode sim, interferir nesse destino se o tempo, a doença, as condições permitirem isso.

Você entrega seu familiar, seu amor, você mesmo, na esperança de que ele mude. Informe. Acalme.

Perdoem-me a falta de otimismo, mas a expectativa é o primeiro grande passo de uma decepção.
Muitas pessoas esquecem que esse "doutor" é também um ser humano. Propenso à erros. Propenso à quedas, como você mesmo é.
É dificil exigir que todos os médicos estejam sempre dispostos a tudo todo o tempo. Que tenham dedicação integral à medicina. Que vivam por ela e para ela.
Esse é o Médico.
Entretanto, terá coragem qualquer pessoa no mínimo Humana a negar este apelo?

 "Doutor, salve ele por favor!"

Como não tentar? Como não fazer o mínimo pelo seu Manuel. Como não examiná-lo, não toca-lo, não verificar se existe uma chance para ele?
Acreditem, desses olhos que viram tão pouca coisa nessa vida, e ainda têm muito a aprender: já vi.
Já vi preguiça. Desânimo. Desprezo. Tá morto. Não pertube.
Esse é o Monstro.

Afinal,ninguém colocou uma faca no seu pescoço e te obrigou a fazer medicina.
Existem tantas outras profissões tão remuneradas quanto (nem ouso aqui citar a palavra bem), ou mais do que medicina.
Normalmente convivemos com essas duas faces frequentemente.
A medicina te leva ao topo e a lama. 
Às vezes no mesmo dia. 
Se existe uma empatia médico-paciente você é o Médico. Se um paciente discorda de algo que fazemos, já pensa no Monstro.
Não há como ser médico sempre. Por mais que se tente.
Temos instintos protecionais, éticos, que muitas vezes nos farão discordar de alguém para um "bem maior".
Entretanto, concordo com muitos pacientes que relatam os Montros soltos por aí.
Afinal, eu também sou uma paciente.
Num desabafo: Monstros vão fazer outra coisa.  Não sujem o nome da medicina, uma profissão tão bonita e encantadora. Corram sim, atrás da menina dos olhos da sua felicidade.
Pacientes: entendam o seu médico. Vejam o lado humano deles. Procurem não julgá-lo antes de conhecê-lo. Conversem com ele. Diálogo ajuda a resolver muitas discordâncias da medicina. 
Quem sabe assim muitos Manuels, João e Antonios sejam salvos. Talvez alguns doutores também. 
E ao médicos e monstros meu apelo:  coloquemos os Mostros no seu devido lugar. E que seja bem longe dos pacientes. 
Assim seja.