sexta-feira, 23 de julho de 2010

Escrever

Escrever é para algumas pessoas quase como respirar. Uma necessidade.
Comigo acontece em surtos.
Uma idéia dominando a minha mente, uma simples vontade de desabafar. Você acaba jogando tudo isso em palavras, o mais rápido possível, antes que elas se percam dentro de você mesmo.
Não sei quem me ensinou isso. Acho que já nasci programada. Veio incutido em mim o gene das palavras.
Gosto de falar, e nem precisa ser para os outros. Na grande maioria, falo comigo mesma, quase todo o tempo. Desde muito tempo atrás. Meu primeiro diário foi com 10 anos. E nele, já se via toda a alma pessimista e adoradora Romântica. Cresci. Mudei de estilo. Todavia, as palavras ainda me vêm, as vontades ainda são muitas.
O mundo das palavras é algo completamente particular. Ele encanta, diverte, comove, te faz rir. Tocar alguém com palavras é quase uma dádiva. Poucas pessoas têm de verdade esse dom. Grandes mestres da língua potuguesa.
Quem toca o outro com palavras tem um dos maiores poder deste mundo:o convencimento. Basta saber usá-lo.
Se alguém por aí interpretar qualquer pontada de narcisismo,não se engane. Minha timidez me impediu muito e me impede até hoje de evoluir com meus textos. Durante muito tempo, escondi-os naquela caixinha do armário.
Nem de longe quero me comparar aos grandes Mestres. Escrevo para mim. Para acalmar minha alma.
Para até descobrir quem eu sou.
Por isso, não recrimine quem escreve.
As palavras são em diversas circunstâncias são uma fuga, um grito do eu.
É sempre bom tentar compreender alguém que grita.
No fundo, ele quer ser ouvido.



quarta-feira, 21 de julho de 2010

As borboletas

Um dia disseram a ela que existia um príncipe encantado. Colocaram-no num cavalo branco. Fizeram-na brincar de boneca. Malditas bonecas. Fizeram com que ela sonhasse e até bricasse com a existência dele. Ela sonhou. Esperou por um tempo. Esperou.
Até certo ponto de sua infância  e pré-adolescência ela o esperava. Chegou até apensar que uns e outros eram "Ele", mas sempre tinha algo que não se encaixava muito bem...
Um dia, alguém muito parecido veio, e, pelos primeiros cinco minutos, agiu como se o fosse. Ela se encantou. Não entendeu nada. Sentiu o corpo arrepiar. O coração bateu forte. As pernas tremeram sem saber o que fazer. Ela não sabia o que era aquilo.
E sentiu então, pela primeira vez, as borboletas no estômago.
Sim, as tais das borboletas. Se podia ter uma certeza disso tudo, essa seria: das borboletas. Elas existem. Às vezes elas vêm na hora errada, as vezes elas nem estão no estômago mais. As vezes, e se contarmos, na grande maioria delas, surgem com a pessoa errada, no lugar e situações mais inapropriadas possíveis. É inevitável. O tremer por dentro era mais forte do que ela. Um medo misturado com prazer, uma ânsia, misturada com euforia.
A gente não escolhe quando as borboletas surgem, elas é que escolhem o "Ele".
Só que borboletas cegam. Ela não sabia disso ainda, mas iria descobrir. Todas descobrem.
Enquanto as borboletas continuavam ali, ela não conseguiu pensar.
E como todo conto há de ter sua bruxa ou lobo mal na espreita, ela pensou que quando a outra surgiu estivesse apenas cumprindo seu papel. Mas a outra era apenas mais uma princesa, que resgatou o principe dela.
Ela sabia que príncipes não eram resgatados. 
E então, aí, ela finalmente começou a desconfiar das histórias.
Ela esperou. Afinal, toda história que se preze tem seu sacrifício por parte da princesa. "Talvez ainda haja esperança". Esperança. Esperar.
Mas isso não o fez o certo "Ele". Aliás, o "Ele" nem existe. O que é certo ou errado? Não querer alguém que te queira? Não querer permanecer o resto da vida com uma única pessoa?
Uma questão de preferências.
Demorou um tempo, até que ela desfizesse toda a ilusão. Muitos "príncipes" depois, ela ainda aprendia.
Ela aprende até hoje. Até que não procurasse mais nenhum.
Mas eu não a culpo. Fomos criadas assim. Nascemos no meio de histórias de fadas. Fizeram-nos acreditar, e gostar do amor, sem nem sabermos sequer o que era, e se ele existia.
A maioria de nós passará uma vida toda sem descobrir. Não aquele amor de sonhos, utópico, fruto de toda uma aura de imaginação.
O amor, meus amigos, é algo simples que o homem não entende. É nobre e humilde. É um complexo de pequenas atitudes. Nada mais natural do que não haver exclusividade do sentimento em um único ser humano.
Mas não podemos confessar tudo. Não peça para uma mãe ensinar para a filha a realidade do mundo atual. Ela seria uma menina pessimista, astuta e fria. Não seria uma criança.
E as borboletas? Estão lá, quietas. Surgindo nela naquele que não liga. Naquele que ficará distante. Naquele complicado.  No que não pode te encontrar. No que não quer fazer isso. Naquele que você não pode ter.
Minha dica é: curtam as borboletas. Só elas nos fazem sentir vivos de verdade. Mulher foi feita organicamente para receber, cuidar e ser amada por isso, mas estamos tão acostumadas aos desafios da vida, que às vezes nos esquecemos disso. É bom ser frágil. E bom ser cuidada. É bom ser menina algumas vezes.
Contudo, não se deixem jamais serem violadas. E se algum homem puder me ouvir: respeitem as borboletas. Cada decepção que acontece, uma parte delas morrem. Por isso existem tantas mulheres vazias por aí.
Curtam, mas não matem as borboletas.
Mulher de verdade sabe como a vida é e a encara de frente. Mas com as borboletas por dentro. 
Nós precisamos delas.