sábado, 8 de agosto de 2015

Sobre Príncipes e Laranjas




Os otimistas que me perdoem, mas não quero minha metade da laranja!

Essa ideia preconcebida de que as almas foram la divididas sei lá por quem ou pelo que, em duas metades iguais, simplesmente não me apetece! 

Essa alma "gêmea", metade de mim, assim, perdida pelo mundo, como quem não quer nada, que vai um dia esbarrar pelo meu caminho, me ver e se completar comigo? Bem, acho que não... 

Se tem um Deus que criou tudo, criou tudo a partir de algo que um dia foi uma unidade. 

Quem sou eu pra imaginar que ele criou um único pedaço para mim?

Se quer saber, acredito mesmo é na teoria das Afinidades.

Eu não tenho uma metade. 
Tenho várias. 
 
Acredito mesmo é que minha "alma" foi dividida em milhões de pedaços.
Zilhões, talvez. No fundo, tudo tem a minha "alma". 

Uns pedacos são mais próximos do pedaço que sou agora, uns pedaços do que não sou, aqueles outros bem mais distantes,  tão Longe a ponto de eu nem ser capaz de identificar alguma proximidade ou afinidade com eles. Pedaços escuros e claros. Pedaços feitos, completos, como chave e fechadura, e outros apenas pedaços. 

Afinal, o que é o grande Deus além de um conceito de Universalidade?

Cada pessoa tem lá seus pontos de quina, como se fossem formas geométricas de diferentes personalidades. Uns são quadrados, outros são círculos, outros são octógonos, outros triângulos, mas sempre, sempre pedaços de uma figura bem maior. 

Um círculo pode assim encaixar com o cone, com um semicírculo, ou com aquela peça que sinta sua falta. 
Mas nunca com uma peça só. 
Umas completam mais, outras completam menos, algumas completam o suficiente para não causar desconforto. Outras por vezes, podem fazer doer as quinas. E outras simplesmente não encaixam, sem uma peça de intermédio...

Por vezes o círculo da laranja encaixa no circuito do limão. É certo que as cores podem não combinar de vez em quando, principalmente à luz do dia. Mas ambas são ácidas. Ambas são frutas feitas. Ambas são cítricas. E ambas podem deixar aquele gosto azedo no fim. 

Não, não quero minha metade da laranja. Eu nem sei se quero ser laranja, se quero virar suco, se quero virar sumo ou se quero ser uma metade. 
Deixe meus pedaços aqui comigo. 
Não são muitos, mas estão em constante construção. 

Às vezes alguns fragmentos se perdem e ficam pelo caminho. Às vezes alguns fragmentos de aderem e te moldam melhor. Às vezes geram sementes. 
Mas nunca estes pedaços estão estáveis. 

Se nem as pedras, no cálido viver de centenas de anos não estão estáticas, por que eu estaria? 

Recuso qualquer metade igual a mim. Igual ao meu ser. Igual ao que sou. Porque isso não me completaria, só me copiaria, e não seria possível ter outro alguém igual a mim. E se existisse, a probabilidade deste ser estar por perto seria próximo a nula. 

Não, nao quero ser a metade de laranja, nem de limão, nem a tampa de nenhuma panela. 

Quero aprender, achar os meus outros pedaços. Quem sabe integrar alguns deles. Quem sabe levar um pouco comigo sempre. Se um dia tiver um pedaço assim de ouro que valha tanto a pena, talvez integre ele ao meu ser. E vamos assim procurar juntos os outros pedaços da vida que nos resta descobrir. 

Os otimistas que me entendam. 

Quero muitas metades de laranja, até  achar a medida certa.