quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Desabafo

“Soft Watch at the Moment of First Explosion”, Salvador Dali, 1933









Um dia eu acordei e tive dúvida sobre a vida. 


Fiquei com medo. Tornei-me cética.
Era centrada, com linhas e passos a calculadamente dados.
Eu era o centro.
Comecei então a olhar o mundo com uma penumbra constante que caía sobre todas as coisas.
Eu era sombra.
Pensava com os números. Calculava as razões e agarrava-me às leis das probabilidades.
Eu era números.
A pessimista escondida pelos trajes do realismo.
A grande verdade é : eu tinha medo.
Medo pelos outros? Medo dos outros? Medo de ser julgada? Condenada por não conseguir?
Não.
No fundo o motivo era único.
Tinha medo de mim mesma.
Já aprendi a conviver um tanto com o julgamento dos outros que isso já não nem me incomoda tanto quanto antes fora uma dia. 
O que me incomodava mesmo é eu não saber lidar muito bem com as dececpções que eu mesma criei.
Não aceitar para mim que não fora possível.
Fui incapaz.
De como eu reagiria diante do não. 

Tinha medo do não.
Os homens não nasceram para aceitar o não
E me envolvi na capa do ceticismo por ter medo de ter esperança.
Porque os nãos são mais difíceis para quem tinha esperança antes.
Eu era centro, sombra e pessimismo.
E o pessimismo alimentava falta de coragem.
E a falta de coragem alimentava o insucesso.
A grande ironia é que era vítima dos meus próprios medos.
Até a luz chegar.
Ela entra assim, de repente em nossas vidas. Sem pedir. Sem avisar.
É como se Deus tentasse te mandar o tempo todo. Subliminares no espaço.
Um livro.
Uma música.
A decepção. 
O tempo.

Subliminares que surgem e podem nos fazer mudar.
Entretanto, aquele que está involto nas sombras e não quer sair fechará os olhos perante qualquer luz.
A luz.
Num disco.
Num gesto
No afeto.

Num amigo.

Nesses dias de luz, a gente não tem dúvidas sobre a vida.
Basta que você caçe a luz.
Mas seja delicado, veloz e decidido.
Pois Oportunidades são penas, que caem oblíquas à corrente de ar...
Não espere uma trajetória linear...

Quando olhamos vários pontos de perto,  podemos não estar à uma distância sufuciente para exergar a imagem..
Já diziam as leias da física.
Traços se cruzam no infinito
Tempo muda como a velocidade da luz
Porque a vida é assim, enigmática.

Os traços, os riscos e rabiscos poderão sempre ser luz.
A escuridão pode ser luz.
Pois só no escuro a fresta aparecerá.
E só com o negro saberemos que o branco existe, e que ele é a reunião de todas as cores.
Acredito nas leis da física.
Nas leis das probabilidades.
E sei que numa hora desses, a moeda cairá do lado contrário.
E neste dia estarei mais forte, pois já conheço a escuridão.
A moeda mudará de lado.
É só uma questão do número de jogadas.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

É proibido





 É proibido
Pablo Neruda

"Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.

É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.

É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.

É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual."

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

As pessoas grandes



Temos uma necessidade extrema de sabermos o que acontece, o por quê acontece.
Muitas até tentamos prever o que irá acontecer.
Planejamos.
Controlamos todos os fatores ao nosso redor.
Domínio sobre o meio.
Quer saber? Não quero ser mais uma pessoa grande.
Quero ser Grande.
As pessoas Grandes não se importam com o futuro, pelo menos não com os minimos detalhes dele. Elas simplesmente vêem o presente como a maior dávida que temos.
Elas fazem o agora.
Agora.
Existiram muitas vezes nessa vida em que fui uma pessoa grande.
Mesmo criança, por vezes me via agindo como uma pessoa grande.
As pessoas grandes não nascem grandes: aprendem a ser.
De fato:


As pessoas grandes nem sempre são Grandes. 

Quem percebe a grande ironia de Antonie, entende muito bem isto.
Como um belisco discreto no orgulho adulto, ele evoca os grandes justamente como pessoas de alma pequena. Aquelas sem a alma do Pequeno Príncipe.
E nos diz, assim, discretamente, que nossa alma costumava ser maior à infância.
Por que?
Porque as crianças têm esperança.
Elas só não as têm, como são as representantes vivas dela.
Hoje entendo o que ele quis dizer: idade não quer nem de longe dizer o que é sabedoria.
Sabedoria não quer nem de longe dizer ser grande.
Pelo contrário.
O verdadeiro sábio sabe ser pequeno. Reconhece suas falhas e sabe que deixar o orgulho de lado sendo simplesmente pequeno para alguém é muitas das vezes a solução mais razoável de todas...
Portanto, digo: deixem-se ser pequenos.
No início é difícil, aceitar os que as pessoas grandes fazem com os nossos corações.
Mas todo coração de pequeno príncipe hábde ter uma rosa lhe esperando com todo amor e carinho.
Todo coração de Pequeno Príncipe há de ter um amigo aviador.
Todo coração de Pequeno Príncipe há de converter uma raposa.
Convertamos assim, as raposas do mundo com nossos exemplos.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Juramento III - O Médico e o Monstro


 Exercerei a minha arte com consciência e dignidade.
 Às 17h daquela tarde meio nublada o dia parecia normal. Tudo caminhava para a ordem natural das rotinas, sem planos de transgredir os planos. Nós sempre vivemos com planos, mesmo invisíveis, esperando que as coisas sempre sejam "iguais".
O sol estava à pino. Ainda havia muita areia para transportar do caminhão para a construção.
De repente o mestre de obras o chama.
"Oh Manél, tua esposa no telefone. Urgente."
Mas o que que essa mulher quer? A revolta durou menos de 5 segundos ao telefone. Tomou conta a de preocupação, e quem diria, o desespero.
Meu pai caído no chão. A mulher não sabia o que fazer.
Ligou para a ambulância. Mas cadê a droga da ambulância.
Ele pegou as coisas e saiu do trabalho. Tinha falado com o chefe. Sabe que morte o mestre não dizia que era desculpa. Tinha como atestar.
Mas quem ali tava falando de morte meu Deus!?
"Eu tô ficando doido!" pensou.
Correu o que podia, mas o ônibus não obedece as urgências da vida.
No meio do caminho a esposa liga informando o hospital em que ela estava. Hospital ? O "Matadouro" da cidade. Vamos ter fé em Deus.

Às 17 h da tarde dublada seu Manuel estava vivendo mais uma daquelas crises de terceira idade: sentia-se inútil. As pessoas já o tratavam como "caduca". Falavam alto e devagar com ele. Escondiam dele as coisas.  Paravam de tocar em certos assuntos quando ele se aproximava. Ele era teimoso. Não ia dar o brao a torcer assim facil não. Anos de trabalho nas costas. Esses moleques tem que me respeitar.
A nora veio. Ele nem sabia como tinha começado a briga. Só sentiu a dor. Aliás, só sentiu o começo dela. O resto da dor ainda iria, horas, dias depois, permanecer no ar, no lar, assim nas pessoas...
"Fui eu a culpada!" entre as lágrimas, o desespero, a dor, o arrependimento, a salada de sentimentos não adeixava manter o controle. Só conseguia chorar, e segurar o seu Manuel nas cordas da ambulância. O técnico olhava para ela com ar de consolo, enquanto se movia de um lugar ao outro, mas já tinha desistido de falar. Agir era mais confortável. "Tô fazendo o que posso, mas sem médico, esse velho não vai resisitir muito não ...."
O barulho da sirene da ambulância era o som mais confortante.

Sentado no estar da Unidade, o médico só ouvia uns bipes contínuos dos monitores da sala, o que já era comum aos seus ouvidos de intensivista. Ruim mesmo era quando batiam as portas ou o som das ambulâncias com sirenes altas.
O barulho da sirene da ambulância sempre fora o som mais desconfortante.

Seu Manuel entrou calado, mas todo o resto fez barulho por ele. Sirene. Maca. Porta. Povo. Faz. Pega. Ajuda. Acude. Leva. Portas.
O Caos.
O médico levanta. A nora corre, vai atrás do "Doutor".  Eles se encontram. 
E durante 3 segundos olham-se. 
Reconhecem seus papéis ali. Era tudo que ela queria.
"Doutor, salve ele por favor!"

...

Depois do Caos vem a calmaria.

Se querem saber o que aconteceu com o seu Manuel, digo: é o que menos importa. O destino do seu Manuel já estava traçado no momento em que ele cruzou a porta. Ou não? 
No momento em que ele caiu na sua casa.
Mas, o destino de todas as outras pessoas ali seria o mesmo? Aí sim digo: depende.
Você procura alguém que mude esse destino. 
Alguém que mexa naquela história que está para ser triste. 
Alguém que enxergue uma solução para o problema. Um salvador.
O "Doutor".
Indivíduo o qual pode sim, interferir nesse destino se o tempo, a doença, as condições permitirem isso.

Você entrega seu familiar, seu amor, você mesmo, na esperança de que ele mude. Informe. Acalme.

Perdoem-me a falta de otimismo, mas a expectativa é o primeiro grande passo de uma decepção.
Muitas pessoas esquecem que esse "doutor" é também um ser humano. Propenso à erros. Propenso à quedas, como você mesmo é.
É dificil exigir que todos os médicos estejam sempre dispostos a tudo todo o tempo. Que tenham dedicação integral à medicina. Que vivam por ela e para ela.
Esse é o Médico.
Entretanto, terá coragem qualquer pessoa no mínimo Humana a negar este apelo?

 "Doutor, salve ele por favor!"

Como não tentar? Como não fazer o mínimo pelo seu Manuel. Como não examiná-lo, não toca-lo, não verificar se existe uma chance para ele?
Acreditem, desses olhos que viram tão pouca coisa nessa vida, e ainda têm muito a aprender: já vi.
Já vi preguiça. Desânimo. Desprezo. Tá morto. Não pertube.
Esse é o Monstro.

Afinal,ninguém colocou uma faca no seu pescoço e te obrigou a fazer medicina.
Existem tantas outras profissões tão remuneradas quanto (nem ouso aqui citar a palavra bem), ou mais do que medicina.
Normalmente convivemos com essas duas faces frequentemente.
A medicina te leva ao topo e a lama. 
Às vezes no mesmo dia. 
Se existe uma empatia médico-paciente você é o Médico. Se um paciente discorda de algo que fazemos, já pensa no Monstro.
Não há como ser médico sempre. Por mais que se tente.
Temos instintos protecionais, éticos, que muitas vezes nos farão discordar de alguém para um "bem maior".
Entretanto, concordo com muitos pacientes que relatam os Montros soltos por aí.
Afinal, eu também sou uma paciente.
Num desabafo: Monstros vão fazer outra coisa.  Não sujem o nome da medicina, uma profissão tão bonita e encantadora. Corram sim, atrás da menina dos olhos da sua felicidade.
Pacientes: entendam o seu médico. Vejam o lado humano deles. Procurem não julgá-lo antes de conhecê-lo. Conversem com ele. Diálogo ajuda a resolver muitas discordâncias da medicina. 
Quem sabe assim muitos Manuels, João e Antonios sejam salvos. Talvez alguns doutores também. 
E ao médicos e monstros meu apelo:  coloquemos os Mostros no seu devido lugar. E que seja bem longe dos pacientes. 
Assim seja.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Juramento - Parte II


Darei aos meus mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos.










Chegamos aqui numa parte bem especial do discurso: os mestres.
Quantos de nós ao ler rapidamente esta frase não irá se perguntar."Mas como?! Como agradecer aquele professor chato, aquele que não dava aula, aquele que cobrava toda a materia sem dar recurso, aquele que nem cobrava?"

Difícil?
Eu diria, não.
Todo o segredo desta frase gira ao redor de uma única palavra, que vêm aos nosso olhos, de uma maneira especial agora

Mestre


Um Professor nem sempre é Mestre.
Hipócrates 377a.c já sabia disso.
Quando somos acadêmicos, não falo isso com nenhum sentido de inferioridade, somos um projeto em formação. A universidade não nos ensina tudo.
Nada nos ensina tudo.
Não saímos de lá prontos, como uma obra que tem prazo a ser cumprido em seis anos. Definitivamente não. Muitos acabamentos só serão feitos mais tarde, o que pode demorar muitas vezes meses, anos e até décadas a serem feitos.
Podem nunca ser feitos.
Sinceramente, quem faz medicina, na minha mera opinião, nunca está "acabado".
Eu mesma já fui muito chata, e ainda sou até hoje.
Mas sempre que vejo alguém mais novo, tento ter paciência e atenção com ele.
O acadêmico nada mais é do que a criança cuidada pelo Mestre.
Existem muitos tipos de crianças. 
Criança é peralta, travessa, manhosa às vezes, mas entre todas elas, há uma coisa em comum: formação.
Toda criança ainda é um objeto a ser moldado, um projeto da construção que está sendo levantada, e pode ter a influência de diversos projetos ao redor...
Toda criança que está empolgada com um novo brinquedo que gosta muito se exibe um pouco com ele, se orgulha de tê-lo. O Mestre não se aborrece, mas ri e lembra de como já foi criança um dia..



mestre que é Mestre não toma o brinquedo da criança, e sim ensina a criança a como utilizar o brinquedo.
mestre que é Mestre não quebra o brinquedo, e sim o guarda, explicando para a criança que o brinquedo não é a única coisa importante na sua vida e que sempre existirão outros valores a serem creditados.
mestre que é Mestre não julga a criança, muito menos a condena às mesmas leis dos adultos, e sim ensina-a com o seu erro e com o seu exemplo.
 mestre que é Mestre não grita nem bate na criança, e sim impõe seu respeito falando claramente e firme, e a faz entender as consequências dos seus atos.
 mestre que é Mestre não deixa de responder a criança a pergunta mais tola e abstrata do planeta, e sim ensina-a a procurar onde aprender...
mestre que é Mestre não deixa de ouvir a criança por acreditar que ela sempre estará errada, mas sim fica feliz pois terá a oportunidade de ensiná-la o que ele acha certo.
mestre que é Mestre não se aborrece com a criança, porque sabe a influência que ele possui nela e da importância de seus ensinamentos para o futuro.
 As crianças sempre foram a esperança.

Se alguma coisa deve mudar, que comecemos pelas bases. 

Tive muitos professores que me ensinaram conteúdo. Muitos que me deram provas, observações, notas. 
Muitos me ensinaram, ou me cobraram teoria e montaram certas bases.
Mas Mestres, foram menos. Não se ensina a ser Mestre. Deve-se ser e gostar de ser um.

Aos Mestres eu deixo aqui o meu muito obrigado.

Tenho certeza que os verdadeiros Mestres não se importaram com os nossos erros, assim como tenho a certeza e que nenhum de nós quer decepcioná-los.

Aos que não foram mestres, bem, esses eu agradeço também. Estes me ensinaram a ter uma referência contrária, à saber que existem dois lados de uma mesma moeda em tudo nessa vida. E como Hipócrates disse, mesmo eles eu devo o meu reconhecimento. 
Respeito, sim, como devemos respeitar qualquer ser humano. 
Autoridade e admiração, nem tanto. 
Isso não se impõe, e sim se conquista.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Juramento - Parte I : Princípio Básico

 Prometo solenemente dedicar a minha vida a serviço da Humanidade...




As pernas dela doem. Os olhos fecham e abrem lentamente. O cansaço é tamanho, que não ela nem mesmo consegue relaxar por completo.
Foi um dia corrido na emergência. Quase dois dias entre pacientes, caos e defesas.
Sim, muitas vezes temos que ser o juízo e a defesa da ocasião.
E entre as preocupações na vida e os afazeres e obrigações, você pode pensar que ela está infeliz.
Mas eu digo: não.
Cansada, bastante.
Mas ela não infeliz.
A única coisa que ela lembra destes dias é da dona Joaquina, que entrou no atendimento incosciente, respirando profundo, cercada de familiares nas suas aflições: o desespero do amor. E recapta na mente como ela já até conseguia se comunicar com seus familiares ao sair da emergência.
Aquilo era um pequeno passo para ela, um grande passo para dona Joaquina, e a certeza de uma ínfima parte de uma jornada longa e árdua que ainda se perpetuaria por longos e longos anos. 
A intensidade com que vivia a medicina, nunca foi antes como era agora, dedicando dias e noites, sendo cobrada, cumprindo obrigações, era por vezes estafante. Consumia alguns nervos. Esgotava muita calma.
Mas ela era feliz.

Ele se cansou de tudo aquilo. Embora odiasse ficar ali, só conseguia lembrar dos últimos plantões as contas que ele fazia entre um paciente e outro.  Pedia a si mesmo um pouco de paciência. Aguentava a dor. Os desrespeitos. As calúnias. Quanta ingorância! Precisava ficar, arranjar uma saída. Fazer um plano.
Mas nem sempre os planos vêm tão fáceis assim...

Prometer dedicar uma vida.
Pense comigo e me responda honestamente dentre todas as coisas que você conhece:

                                 ''O que valeria uma vida? ''

Difícil, não?

A Medicina é uma raiz que você próprío plantou lá.Primeiro pequena, exige cuidados.
Você cuida. Ela cresce.
Cresce até que toma o seu espaço, e quando vê, já tomou toda a terra e exige um vaso cada vez maior...
Cada vez mais temos que ser grandes. Maiores. Melhorar. Aprender com os erros. Que erros? Dedicar-se.
Entendo bem quando muitos médicos hoje pensam em qualidade de vida.
Nem todos estamos sempre prontos para tanta dedicação assim. São muitas exigências, cobranças. Existem certos graus e tipos de dedicação que cada área exige.
Sua vida não para, não espera suas graduações.
Sempre estará lá. As coisas continuaram acontecendo.
Os fatos vão desenrolar-se, as pessoas surgem, irão ou permanecerão.
Qual será o plano?
Um vez médico, para sempre médico.
Mas é importante lembrar.
É uma escolha.

Entendo os pacientes que reclamam de certos tipos de médicos. Médicos insatisfeitos, infelizes consigo mesmos. Médicos felizes, mas já impacientes em ter a mesma rotina, em responder as mesmas perguntas.
Mas é importante lembrar.
A Medicina é uma raiz que você próprío plantou lá.Então deixo vocês com ela....

Ela



Não é sempre cura, mas é alívio.
Não é sempre alívio, mas é conforto.
Não é sempre conforto, mas é verdade.
Não é sempre verdade, mas é caridade.
Não é sempre caridade, mas é justiça.
Não é sempre justiça, mas é bondade
Não é sempre bondade, mas é humana e imperfeita
Não é sempre humana, mas é profissão
Não é sempre  profissão, mas é sempre uma vida
Uma vida 
A zelar
Outra vida.
Quem por nós?
Uma escolha.
Viva bem 
Aquele quem 
Escolhe bem

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O velho Pequeno Príncipe

Imagem retirada de Rvbar
Olhei bem. E vi um pedacinho de gente extremamente extraordinário,que me considerava com gravidade. Eis aqui o melhor retrato que consegui fazer dele.
Saint-Exupery, O Pequeno Príncipe










            Das poucas coisas que aprendi nessa vida, um terço devo às pauladas que levei na cara, um terço ao Pequeno Príncipe. O outro terço, a gente nunca aprende, e continua errando pelo meio do caminho...
Eis que um belo dia estava em São Paulo quando fui tomada por um desejo de andar, e uma busca veio à minha mente: sebos. Nada que minha rinite alérgica desejasse tanto se instalar como de hábito, contudo a palavra veio já com missão definida:  encontrar uma velha cópia do Pequeno Príncipe. 
Isso mesmo, depois de velha, eu queria ler livro de criança...
Mas já lhe conto o que você já saber há muito tempo: o Pequeno Príncipe  não é livro de crianaa, embora me encantasse muito desde esta época. É, sim, uma das maiores obras da filosofia adulta (pelo menos assim eu o considero). 
Eu semrpe fui uma criança de ler livros, estimulada para isso. E até hoje agradeço do fundo da alma as meras letrinhas coloridas que minha mãe-madrinha colocava à minha frente. Letras que tão mais tarde me encantariam, e me envolveriam com o seu mistério, pelo qual sou instigada até hoje.
Embora já não me reste tempo agora para ler, e todos os últimos livros que li nesses anos envolviam assuntos médicos, ainda tenho em mim esse lastro, que espero profundamente um dia recuperar, quando a oportunidade se fizer presente novamente.
E num desse ímpetos, fui com a nostalgia dos meus tempos de criança alimentar a minha vontade repentina de adulta. 
E lá que descobri o Sebo do Amadeu. Ao adentrar, de imediato perguntei: 
"Tem o Pequeno Príncipe?" 
O rapaz prontamente respondeu que sim, sumiu por alguns instantes, me deixou alguns segundos por entre los ácaros e meus olhos e retornou, não sei bem de onde, com um exemplar do livro na mão.
Minha alegria logo esvaiu-se quando olhei naquela direção: novinho em folha. 
Ele viu a minha tristeza e perguntou "O que foi?" 
E já prevendo a insanidade das próximas palavras respondi:
"Eu quero um velho..."
 Eu já sabia que a maior parte do mundo me acharia louca.  Já aguardava uma pergunta do tipo."Por que? Leva o novo!..." Seguida de todas as razões lógicas do mundo contemporâneo.
Mas o Amadeu já tinha lido o Pequeno Príncipe.
Ele me disse que ia encomendar, que voltasse dali há uns dias, que ele daria um jeito. Eu achei que era meio "papo-de-vendedor" dele, mas mesmo assim, me veio uma esperança.
O Amadeu havia lido o Pequeno Príncipe.
Não desisti. Fui à outros sebos. Mas nada. Todosos vendedores vinham com a mesma cópia nova de antes. 
E eu os deixava lá, com caras e bocas de interrogação. Fui na semana seguinte. E na semana seguinte. Até que retornei com o Amadeu.
Nesse outro dia, sem a mesma empolgação de antes, perguntei.
Dessa vez ele nem saiu do lugar. Esticou o braço direito, e da estante retirou-o. 
Eu o vi.
E soube que era perfeito.
E desde então, com o princepezinho, voltei de lá diferente.
Se li meu pequeno príncipe? Sim, e algumas vezes dou umas relembradas que é para eu nunca me esquecer de como ele é. Para eu nunca me esquecer.
Às vezes a gente grande esquece...
O mais importante é que já guardo o pequeno aqui no peito andando por aí comigo.

Ainda assim, tenho vontade de caregar ele de vez em quando comigo. Melho, tenho vontade de distribuir umas cópias deste livro para algumas pessoas por aí, com partes grifadas e algumas explicações nas laterais. Colocar em alguns cartazes pela cidade, talvez. Muita pretensão minha.
Sinceramente, acho que essas pessoas seriam bem mais felizes depois de colocarem um pouco do principezinho dentro de si. 
Mas filósofo que é filósofo sabe que a filosofia tem seus próprios meios e mistérios. E contradições. Devo respeitá-los.
O que o Príncipe diz para mim, pode não ser o mesmo para você
A filosofia é um mundo de cada um.
O que posso fazer é falar do Príncipe, como falo da vida e das coisas que me vêm à telha. Permitam-me abrir uma nova página somente para ele. 
Quem sabe assim o mundo fique mais bonito.


O que torna um deserto belo, disse o princepizinho, é que ele esconde um poço nalgum lugar...
Saint-Exupery, O Pequeno Príncipe

domingo, 15 de agosto de 2010

Dia do Solteiro 2

Eu já gostava dessa música, agora muito Mais!


Dia do Solteiro



Hoje, Dia do Solteiro, não resisti, e tive que linhar algumas palavras
Não sei quem foi quem inventou essa coisa de "Príncipe Encantado", ou de Amor para uma vida inteira.
Se num breve instante colocarmos nossas mentes preguiçosas para exercer um raciocínio lógico chegaremos a pergunta crucial.

Responda bem dentro de si.




Será possível amar mais de uma única pessoa pessoa uma vida inteira?

A resposta vem bem rápido.
Entretanto, ouso em me contradizer e  afirmo: depende. Depende do conceito desse objeto famoso entre todos nós: o tal do Amor.

Amar é bem diferente de sentir atração.
É bem diferente de ter respeito.
É bem diferente de ter carinho.
É bem diferente do que costumamos pensar.
Amar é um bem querer. Sentimento simples, que de tão simples que é, envolve e mistura-se à muitos outros sentimentos.
Assim, é bem previsível confusões.
Se amar significar para você um sentimento de atração e admiração entre duas pessoas,
Se amar significa importar-se com alguém,
Se amar significa querer o bem de alguém
pode-se sim amar mais de uma pessoa.
Podemos, sim,e DEVEMOS amar mais de uma pessoa.
Por que não podemos dividir um sentimento tão bonito entre todos nós:?

Agora se Amar significar Fidelidade, bem, estaremos nadando entre rios mais profundos.
As pessoas juram fidelidade umas às outras por princípios. Princípios pessoais e regidos em parte pela sociedade. Conjunturas que as fazem querer mostrar respeito e dedicação aquela única pessoa.
Se você quer ser fiel (observe  bem o verbo utilizado QUER), se é de seu desejo e livre vontade, pratica a fidelidade.
Isso é único e extremamente pessoal.
Se duas pessoas se encontram, e querem por si próprias, prometerem uma à outra passar em tempo de suas vidas em convivência exclusiva, nada deve impedi-las.
Não vejo nada errado nisso.
Cada uma delas tem a consiência de que é possivel sim, sentir atração, admiração e amor por outras pessoas. Contudo isso não é mais significativo para elas do que se criar uma única relação, com um vínculo mais forte e mais consistente entre si, que por isso terá uma importância muito maior em suas vidas.
Pelo menos assim deveria ser.
Entretanto, as pessoas insistem em relocar fidelidade como algo social. Algo justificando entre todos um comportamento pessoal.
Não amigos, a fidelildade deve estar dentro de você.
Não se cobra fidelidade.
Não se dá fidelidade.
Fidelidade deve ser uma vontade própria, um desejo.
Se não se é capaz de realizá-lo, se não há vontade em tê-lo, não há de se jurar fidelidade.
Pelo menos assim deveria ser.
Portanto, não cobre a fidelidade de ninguém. Se está cobrando-a, você nem a tem...
Não jure fidelidade a ninguém sem tê-la, seja pelo motivo que for (por pressão social, comodismo, egoísmo).
Que mal há em curtir  a vida e aproveitar as oportunidades que se deseja?
Desde que não enganando ou desrespeitando ninguém.
A sinceridade é e sempre será o princípio dos livres.
Não vejo nada errado nisso.
Vivamos então nossas solterices, em busca cada um de nós, o que nos satisfaz melhor.
Em busca da nossa felicidade.

sábado, 14 de agosto de 2010

O juramento

De todas as promessas que fiz, absolutamente, esta foi a mais difícil. Jurar.
Jurar que há de se ter honra com vidas.
Alguns podem até se admirar tanta dificuldade num princípio tão simples.
Proponho-me a explicar toda magnitude da profissão médica em meros textos.
Acredito que só assim , ouvindo pacientes e médicos, será possível melhorar a comunicação entre os dois lados de um mesmo objetivo.
A vida.

Os próximos textos, em ordem aleatória de pubicação, exemplificarão muito o que quero dizer.
Espero que eles ajudem pacientes, acadêmicos e outros profissionais, incluindo eu mesma, nessa jornada longa e árdua que é a arte de curar.

Eis aqui o juramento


"        Prometo solenemente dedicar a minha vida a serviço da Humanidade.
        Darei aos meus mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos.
        Exercerei a minha arte com consciência e dignidade.
        A saúde do meu paciente será minha primeira preocupação.
        Mesmo após a morte, respeitarei os segredos que a mim foram confiados.
        Manterei, por todos os meios ao meu alcance, a honra da profissão médica.
        Os meus colegas serão meus irmãos.
        Não deixarei de exercer meu dever de tratar o paciente em função de idade, doença, deficiência, crença religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação político-partidária, raça, orientação sexual, condições sociais ou econômicas.
        Terei respeito absoluto pela vida humana e jamais farei uso dos meus conhecimentos médicos contra as leis da Humanidade.
        Faço essas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra."






Aguardem...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Biografia

Perdoem-me se o dia dos pais é um dia um tanto "comum" para mim. Não que eu seja frívola, seca ou qualquer coisa tão rígida assim. Pelo contrário. Toda essa coisa de amar consome bem mais tempo dentro de mim do que deveria. Amar é bom. Amar demais, é sofrer. Até um
Entretanto, a despeito de tanto amor por essas artérias, e desafiando as leis da sociedade eu nasci.
Eu nasci no lugar errado. Na hora errada. Em vim ao mundo assim, a forma errada, para me tranformar até mesmo sem querer numa pessoa meio certa.
Tudo o que sou, não passa de uma bela travessura do destino.
Minha história é assim.
Quando eu nasci Deus me disse, vai Izabella, com seu nome torto, escrever direito essa tua vida.
Eu nasci.
Nasci num berço que era da Misericórdia.
Logo descobri que aquele seria o melhor berço que o meu sangue poderia dar para mim.
Eu cresci um pouco. Mas antes de me lembrar disso, meu pai já havia ido ter a conversa dele com Deus, antes mesmo de eu conseguir falar alguma palavra com ele.
E daí, sem berço, sem terço, sem pai, e um sangue sem juízo, foi que a vó, (sempre as vós com o bom senso na cabeça) decidiu a madrinha.
Eita destino! A avó decidiu, e eu ganhei de prêmio, antes de saber o que era isso, um futuro na vida.
Eu cresci.
No meio de gatos, cachorros colegas de escola e de livros. Não muitos livros. Mas o suficiente para eu descobrir que havia um mundo lá fora.
Eu sempre fui curiosa.

E eu assim, com essa curiosidade, fui desvendar o mundo. Ou pelo menos, uma parteínfima dele.
Eu cresci mais. E no mais que me faltasse um pai, fui rodeda de mães. Mulheres, que eram mulher e homem num só. Mulheres de força. Mulheres sem jeito pra lidar com os afetos. Mulheres as quais vida ensinou a ser forte.   E todo forte, tem um escudo que protege.
E de laços, formei uns mais fortes do que qualquer sangue pode dar: os laços da criação.
Sempre soube quem era o meu sangue.  Não que isso não depertasse meu apreço. Mas não se constrói em algumas oportunidades laços tecidos todos os dias durante 23 anos...
Não sou revolta. Não me sobram lesões psicológicas.
Pelo contrário.
Sei que fui "a escolhida" para uma missão maior.
No dia dos pais, rezo pelo meu.
E lembro de como as minhas mães foram mães e pais ao mesmo tempo.
No dia dos pais lembro que é bom sim, ter uma figura masculina ao seu lado, que suporte, que seja a força.
E lembro que é possível tudo isso sem tê-la.



Um beijo ao meu pai. Que Deus o tenha.
Uma lembrança às minhas mães.

domingo, 1 de agosto de 2010

Não mata....

Ela acordou num daqueles dias em que se está pensando em alguém. Não necessariamente uma conotação sexual da afirmação, mas um pensar nostálgico, uma lembrança. Um alguém, um amigo, uma saudade.
Aquela pessoa com quem você não fala há muito tempo e de repente está lá, viva e forte na sua memória.
Isso acontecia algumas vezes. Era natural da mente randômica. Nesse dia ela quis fazer diferente. Prometeu a si mesma: vou ligar. Falarei. Terei o real interesse de saber como ele está.
Mas, não se sabe o por quê, o outro lado não atendeu. Ela ligou de novo. Fez a promessa.  Sempre fora uma mocinha de cumprir promessas. Do outro lado só se escutaram vozes,ou pior, nenhuma voz.
Ela ligou mais uma vez. E foram ofensas. Daquelas feias.
Desistiu.
O outro lado não correspondia à chamada, que não vinha do telefone,mas de um outro coração, ali na linha, calado. Antiquado até.
Chegou à uma conclusão: nunca mais culparia os chatos. Sejam eles quem quer que seja, ou da forma que vierem. Os chatos da ignorância, os chatos do pessimismo, os chatos da mal educação.
Chato que é chato só está tentando se defender de algo. Ou de alguém.
Como culpar alguém que foi magoado uma vida inteira, decepcionado a vida inteira, e ainda assim, exigir que seu coração seja nobre o suficiente para se manter vivo durante toda uma vida?
Difícil. A bondade exige muito. Fraternidade, companheirismo, perdão. Nem todos conseguem.Aí surgem os frios,os calados, os fechados, os ignorantes, os mal educados. Porque até para se educar,é preciso um coração.
Não culpe os chatos.
Chato que é chato pode estar se defendendo de si mesmo. Dos seus sentimentos. Do que ele poderia ser se não fosse chato.
A grande questão é viver essa vida de acordo com a própria filosofia.
Viver a própria vida.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Escrever

Escrever é para algumas pessoas quase como respirar. Uma necessidade.
Comigo acontece em surtos.
Uma idéia dominando a minha mente, uma simples vontade de desabafar. Você acaba jogando tudo isso em palavras, o mais rápido possível, antes que elas se percam dentro de você mesmo.
Não sei quem me ensinou isso. Acho que já nasci programada. Veio incutido em mim o gene das palavras.
Gosto de falar, e nem precisa ser para os outros. Na grande maioria, falo comigo mesma, quase todo o tempo. Desde muito tempo atrás. Meu primeiro diário foi com 10 anos. E nele, já se via toda a alma pessimista e adoradora Romântica. Cresci. Mudei de estilo. Todavia, as palavras ainda me vêm, as vontades ainda são muitas.
O mundo das palavras é algo completamente particular. Ele encanta, diverte, comove, te faz rir. Tocar alguém com palavras é quase uma dádiva. Poucas pessoas têm de verdade esse dom. Grandes mestres da língua potuguesa.
Quem toca o outro com palavras tem um dos maiores poder deste mundo:o convencimento. Basta saber usá-lo.
Se alguém por aí interpretar qualquer pontada de narcisismo,não se engane. Minha timidez me impediu muito e me impede até hoje de evoluir com meus textos. Durante muito tempo, escondi-os naquela caixinha do armário.
Nem de longe quero me comparar aos grandes Mestres. Escrevo para mim. Para acalmar minha alma.
Para até descobrir quem eu sou.
Por isso, não recrimine quem escreve.
As palavras são em diversas circunstâncias são uma fuga, um grito do eu.
É sempre bom tentar compreender alguém que grita.
No fundo, ele quer ser ouvido.



quarta-feira, 21 de julho de 2010

As borboletas

Um dia disseram a ela que existia um príncipe encantado. Colocaram-no num cavalo branco. Fizeram-na brincar de boneca. Malditas bonecas. Fizeram com que ela sonhasse e até bricasse com a existência dele. Ela sonhou. Esperou por um tempo. Esperou.
Até certo ponto de sua infância  e pré-adolescência ela o esperava. Chegou até apensar que uns e outros eram "Ele", mas sempre tinha algo que não se encaixava muito bem...
Um dia, alguém muito parecido veio, e, pelos primeiros cinco minutos, agiu como se o fosse. Ela se encantou. Não entendeu nada. Sentiu o corpo arrepiar. O coração bateu forte. As pernas tremeram sem saber o que fazer. Ela não sabia o que era aquilo.
E sentiu então, pela primeira vez, as borboletas no estômago.
Sim, as tais das borboletas. Se podia ter uma certeza disso tudo, essa seria: das borboletas. Elas existem. Às vezes elas vêm na hora errada, as vezes elas nem estão no estômago mais. As vezes, e se contarmos, na grande maioria delas, surgem com a pessoa errada, no lugar e situações mais inapropriadas possíveis. É inevitável. O tremer por dentro era mais forte do que ela. Um medo misturado com prazer, uma ânsia, misturada com euforia.
A gente não escolhe quando as borboletas surgem, elas é que escolhem o "Ele".
Só que borboletas cegam. Ela não sabia disso ainda, mas iria descobrir. Todas descobrem.
Enquanto as borboletas continuavam ali, ela não conseguiu pensar.
E como todo conto há de ter sua bruxa ou lobo mal na espreita, ela pensou que quando a outra surgiu estivesse apenas cumprindo seu papel. Mas a outra era apenas mais uma princesa, que resgatou o principe dela.
Ela sabia que príncipes não eram resgatados. 
E então, aí, ela finalmente começou a desconfiar das histórias.
Ela esperou. Afinal, toda história que se preze tem seu sacrifício por parte da princesa. "Talvez ainda haja esperança". Esperança. Esperar.
Mas isso não o fez o certo "Ele". Aliás, o "Ele" nem existe. O que é certo ou errado? Não querer alguém que te queira? Não querer permanecer o resto da vida com uma única pessoa?
Uma questão de preferências.
Demorou um tempo, até que ela desfizesse toda a ilusão. Muitos "príncipes" depois, ela ainda aprendia.
Ela aprende até hoje. Até que não procurasse mais nenhum.
Mas eu não a culpo. Fomos criadas assim. Nascemos no meio de histórias de fadas. Fizeram-nos acreditar, e gostar do amor, sem nem sabermos sequer o que era, e se ele existia.
A maioria de nós passará uma vida toda sem descobrir. Não aquele amor de sonhos, utópico, fruto de toda uma aura de imaginação.
O amor, meus amigos, é algo simples que o homem não entende. É nobre e humilde. É um complexo de pequenas atitudes. Nada mais natural do que não haver exclusividade do sentimento em um único ser humano.
Mas não podemos confessar tudo. Não peça para uma mãe ensinar para a filha a realidade do mundo atual. Ela seria uma menina pessimista, astuta e fria. Não seria uma criança.
E as borboletas? Estão lá, quietas. Surgindo nela naquele que não liga. Naquele que ficará distante. Naquele complicado.  No que não pode te encontrar. No que não quer fazer isso. Naquele que você não pode ter.
Minha dica é: curtam as borboletas. Só elas nos fazem sentir vivos de verdade. Mulher foi feita organicamente para receber, cuidar e ser amada por isso, mas estamos tão acostumadas aos desafios da vida, que às vezes nos esquecemos disso. É bom ser frágil. E bom ser cuidada. É bom ser menina algumas vezes.
Contudo, não se deixem jamais serem violadas. E se algum homem puder me ouvir: respeitem as borboletas. Cada decepção que acontece, uma parte delas morrem. Por isso existem tantas mulheres vazias por aí.
Curtam, mas não matem as borboletas.
Mulher de verdade sabe como a vida é e a encara de frente. Mas com as borboletas por dentro. 
Nós precisamos delas.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sentimentos

A tristeza nasce como o amor: imprevisível; inerente; universal.
A grande diferença está no fato de que a tristeza é único sentimento, de única característica, que varia apenas de intensidade. Qualquer pessoa no mundo irá saber exatamente o que se passa dentro de mim se eu disser em palavras traduzidas: "Estou triste."
Entender, é certo.
Explicar,mais díficil.
Entre as muitas coisas da vida que não tem definição. Tristeza dói, incomoda, todos nós sabemos como, mas ninguém sabe onde e o mecanismo exato.
Já que falamos de dor, quem aí consegue definí-la?
Vejo a dor, trabalho com ela e sei o mecanismo. Como dizer então que uma pessoa é mais suscetível do que outra? Como medi-la? Como então, subestimá-la?
Defina-me o que você sente na dor da tristeza. Aperto? Sofrimento? Desagradável? Tudo ao mesmo tempo?
No mundo dos sentimentos não existem definições.
Sentimentos são meras palavras, que essencias ao vocabulário, expressam aquilo que é único, singular. Quem inventou essas letras mal poderia imaginar o quanto de significado elas poderiam carregar em si.
Você as ouve, sente e pode trasmitir uma idéia ao próximo com uma palavra somente. Conceitos que humanos não sabem explicar, mas entendem muito bem.
Aliás, sentimento é outra coisa que não possui explicação. Como definir o não concreto, carregado de subjetivismo?" Algo por dentro, o não físico. O Abstrato."
Aliás,sentimento é outra coisa encaixada nas nossas listas do "sem definição".
Se me pedissem para ser um "Aurélio",eu até tentaria conceituar muitas palavras por aí.
Decepção,por exemplo, daria até para criar um estilo dicionarístico.

"Decepção(substantivo de inferioridade): Sinônimo de frustração associada à certa caraga de tristeza. Queda completa da esperança. Ver alguém do seu ego cair. Imagem do esperado ou almejado desfeita"

A clássica:

"Amor(substantivo universal): Ato de apreciação, gostar de algo ou pessoa. Qurer estar perto, ou não. Querer bem, ou não. Estar feliz, ou não. Completo, ou desolado.
Depende do referencial adotado."
Difícil mesmo é encontrar alguém que não sinta nada.
Dentre as poucas certezas que tive pensando tudo, tenho apenas uma: sentir.
Não me admira muitas pessoas terem medo disso. O mundo dos sentimentos é bem diferente do mundo das palavras. É algo que não se controla, e mesmo o controle traz outro sentimento tentando proteger-se de algum.
Sentir é inevitável. É humano. Aproveitando:

"Humano(substantivo de relatividade): Ser com capacidade de pensar e sentir, tendo consciência do que é isso. Ser bom, e não. Ser alegre, e triste. Ser perfeito e não. Ser físico e abstrato ao mesmo tempo"

Não tenham medo.
É mais fácil admitir a si mesmo o que se passa e tentar executar as decisões para o mundo afora depois disso, do que não sentí-los. Eles sempre estarão lá, guardados em caixinhas, prontos para despertar sob o menor sinal de falta de vigílio.
Você é, verdadeiramente, o que você sente.
E é isso que nos faz "humanos".
Sentir.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Em tempos de copa

Em tempos de copa coisas estranhas acontecem...

Em tempos de copa vejo as cores verde e amarelo num volume e proporção as quais não vejo em outros momentos, nem mesmo nas Olimpíadas.
Vejo aquelas estrelas brancas de fundo azul saírem do armário empoeirado. Flanelas, camisas, shorts, saias, um guarda roupa inteiro verde e amarelo.
Vejo as pessoas cantando o hino nacional. E sempre tem alguém nos lembrando que o nosso é o hino mais bonito. ..
Vejo o orgulho de ser brasileiro, mesmo que a gente saiba dentro de cada um de nós bons motivos para se envergonhar disso.
Em tempos de copa vejo uma casa, uma rua, uma cidade, um país inteiro simplesmente parar em frente à tv.
Ouço fogos. Gritos. Ecos da palavra Gol.
Vejo preguiça também. Além de uma boa desculpa para uma cervejinha com os amigos.
Vejo cobranças, motivação para julgar aquilo que não achamos certo.

Se perguntarem pra mim se acho que o povo brasileiro é patriota, acho que vou dizer: sim, pelo menos em tempos de copa.

Em tempos de copa vejo o patriotismo.
Em tempos de copa, assim como outros tempos, esquecemos de grandes problemas, e nos lembramos de outros poucos.
Queria mesmo que esse sentimento durasse até as eleições.
Queria que aquelas caras pintadas do século passado fizessem algo, além da copa. Que as caras voltassem às ruas, que lutassem pelos seus direitos.Que fizessem seus direitos serem ouvidos.

Queria mesmo que cada um daqueles homens que vestem a nossa camisa, soubesse que representam sim a felicidade de milhões de pessoas, mesmo que seja pelas meras 24 horas pós jogo.

Melhor mesmo, se cada um daqueles que veste palitós, soubesse que representam sim a felicidade de milhões de pessoas, por anos e anos após...


Queria que eles vissem como meus olhos vêem, bandeirinhas em ruas sem asfalto, bandeiras em casas de pique.

Um povo com prioridades equivocadas? Talvez.

Mas entendo esse povo, amigos.

Esse povo que acha que dinheiro não é tudo na vida.
Que vale mais a pena gastar com coisas que nos fazem felizes, do que um seguro no banco.
Qua gasta com coisas que os fazem felizes, nem que seja por um breve e efemero momento.
Respeite essa felicidade.
Quem garante que um dia ela voltará para eles?
Que nem diria o poeta:

"Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato "

Fernando Pessoa






quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ele não está tão a fim de você

Sempre quis fazer uma produção internetística de qualidade. Por isso talvez, relutei muito quanto a falar de relacionamentos. Acho que falar de homens me remete a ideia de mulher insegura, que na minha concepção, não é muito capaz de falar desse assunto com certa relevância.
Devo dizer que qualidade na internet nos dias de hoje é bem difícil de definir, e por isso, me rendi, diante de tanta coisaabsurda que jáli  por aí. Entro aqui, de vez, pra misturar o conteúdo do blog e defini-lo como um mix de tudo. Permanentemente.

Sempre me incomodou muito como certos homens agem com as mulheres. Nós, temos a incrivel capacidade de fantasiar coisas, tomá-las num mundo subliminar que criamos quando gostamos de alguém, e nunca mais conseguir tirá-las de lá. Mesmo que depois nos sobre bastante vontade pra isso.

Meus amigos, me dirigindo neste post mais especificamente às mulheres,  aí vão certas dicas, das quais você não deve esquecer quando uma figura masculina qualquer vier à sua mente.


Regra 1: Esta é, definitivamente, a regra mais importante, a qual nunca deve sair em hipótese alguma da sua mente.
QUANDO ELE(A) ESTIVER INTERESSADO, ELE VAI TE PROCURAR.
Não, se o seu telefone não tocou não foi porque o celular dele pifou, nem porque ele não tem grana para comprar créditos, muito menos porque a máfia chinesa está em conspiração internacional bloqueando todas as chamadas do seu celular.
Aceite: Ele não quis te ligar.
Não perca tempo se achando feia, estúpida, burra, mesmo que isso tenha aparentado ser verdade em algum momento da noite anterior. Nem sempre o que foi maravilhoso pra você pode ter sido tão maravilhoso assim para ele. Atração é felling, tem que rolar uma química. E não adianta porque essa química  não é produzida em nenhum laboratório por aí.
Gosto é único, cada um tem o seu, e mesmo que você seja a mulher mais interessante do mundo, sempre vai ter alguém que não ache. E se acha, sempre vai ter alguém que não ache que vale a pena correr atrás de você, seja pelo motivo que for.
Quando alguém não te ligar, não pense que perdeu o amor da sua vida, e sim, que está evitando alguém qu não lhe dá tanto valor quanto você pensava.


SE ELE LIGOU, NÃO NECESSARIAMENTE ELE QUER CASAR COM VOCÊ.
 Regra complementar à primeira. Quando ele liga, você logo fica imaginando: como vai ser o pedido? Será que ele vai colocar rosas vermelhas à mesa? Que roupa vou usar no aniversário de um ano de namoro? Ele quer meninos ou meninas? Não!!!!!
 Stop!
Se ele ligou,alguma coisa você despertou nele. Atração, interesse profissional, amizade, financeiro. (Isso mesmo, existem homens interesseiros nesse sentido também).  Mas interesse está bem longe de "Quero colocar uma aliança no anelar da sua mão esquerda!". Então vá com calma, não fantasie muito e deixa que as expectativas cresçam de acordo com os fatos acontecendo.
Afinal, ele não pode estar querendo só sexo? Nada contra se você quiser só isso. Tudo certo então. Mas, se você quiser mais do que isso, que tal usar do seu charme e mudar a situação?

SEJA VOCÊ MESMA
Não adianta. Niguém consegue ser um bom fake por muito tempo, a menos que você queira se tornar diferente de vez. Algum momento ele vai te ver sem maquiagem, sem chapinha, sem aquela saia perfeita que disfarça a cintura e mostra suas pernas.
Claro que não é pra andar "mulamba" o tempo todo, ninguém gosta de gente bagunçada, vamos combinar. Apenas não force ser alguém que você não é.
Não use roupas em que você se sente desconfortável.
Não coma uma comida que você odeia para agradar.
Não finja saber do que ele está falando, se você não faz idéia.
É bem melhor descobrir que as afinidades não existem no início, do que passar muito tempo para descobrir que elas nunca existiram.

FIQUE ATENTA COM OS FAKES.
Da mesma maneira que nós tendemos a não mexer em poeira para não sujar, os homens fazem isso. E digo, muito melhor do que as mulheres.
Um homem experiente pode fingir ser o amor da sua vida, só para ter você nas mãos dele.
Logo, aprenda: observe-o. Homens que não querem andar em público, que se recusam a falar de certos assuntos, que recebem ligações em horários peculiares, que mudam de atitude quando algum conhecido aparece, têm algo a esconder. Não necessariamente uma esposa com 7 filhos, mas algo, que pode ser desagradável. Muitos homens flertam com mulheres sendo comprometidos, ficando com outras, só pela arte de conquistar. Aprenda a se autopreservar.
Bem como a sua mãe dizia, "quando a esmola é demais, o santo desconfia..."


SIM, GAYS EXISTEM E ESTÃO MAIS PERTO DE VOCÊ DO QUE VOCÊ IMAGINA...
Hoje o mundo é total flex. Homossexuais e afins estão por aí. Não é porque você é hetero que eles vão deixar de ser o que é uma opção única, muito menos de se interessar por você!
Aprenda a indentificar certos sinais que os homens mandam, e isso pode ajudar e muito a você não perder tempo tentando conquistar alguém que não joga no mesmo time.
E não se iluda! Você não é a mulher maravilha, e por mais que você entenda de sexo e saiba o kama sutra de cor e salteado, isso não vai fazer ele mudar de lado. Tem certos atributos que você não tem, portanto respeite a opção dele. Procure um hetero pra você.

FICAR É BOM, SEXO MELHOR AINDA...
Sim, contente-se. Alguns homens só querer transar com você. Se depois daquela noitada louca ele não parece ser a mesma pessoa de antes, você já devia saber muito bem o que ele queria.
Por incrível que pareça, por mais safado que o cara seja, tem homem que ainda acredita se a mulher vai para a cama na primeira noite é "fácil". Machismos e preconceitos bem à parte, quando ele consegue, aparece aquela luz no peito do fulano, iluminado todo o ego dele.
Se você não se importa com isso, nem bata cabeça com um idiota desses. Você sabe muito bem quem é, e se ele quer te confundir com uma puta qualquer, problema é da cabeça de minhoca dele. Espalhe que ele brochou, ou que o pinto dele é pequeno. Duvido que ele consiga abrir a boca para falar de alguma mulher novamente.
Se você teme por homens desse tipo, evite sexo não planejado. Assim ele não tem o que falar de você.

SE UM NÃO QUIS, TEM QUEM QUEIRA.
Sim, sempre tem um homem no planeta que vai gostar de você. Ele não é o único homem da Terra, o futuro da espécie não depende do seu desempenho, e por mais que você se ache gorda, chata, feia, tem mulher muito mais do que tudo isso junto que não está solteira.
Beleza não é tudo. Comportamento, inteligência, charme e elegância contam muito a hora de conquistar. Revise seus conceitos e veja o que está faltando em você em tudo isso.
Se você quer mudar, mude. Seja o que você quiser, e não fique o resto da vida se lamentando por ser algo diferente. Corra atrás.


No tudo mais, Relacionamentos são uma questão de sorte: encontrar a pessoa certa, na hora certa.
Você pode estar passando por uma maré...
Estar solteira não é o fim do mundo.
Pelo contrário! É uma ótima forma de descobri-lo.
Aproveite esse momento.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Essas pessoas

Às vezes queria ser frágil.
Como entender essas pessoas que te magoam, que te fazem mal, e ainda esperam que você seja forte o suficiente para procurar perdoá-las?
Como entender alguém que não tem escrúpulos e nem tem peso na consciência diante dos seus atos falhos?
Queria ser o pedaço frágil, a parte louca, insana. A parte inconsciente, cega. A parte que não sabe andar. A parte que não sabe fazer as coisas.
Só sofremos daquilo que somos capazes de enxergar. Só quem enxerga, sabe o que está errado.
Você não vê bebês sendo julgadas por não saberem andar, idosos serem julgados por não lembrarem de tudo às vezes.
Queria ser a parte frágil.
A parte que é perdoada.
A parte que age como uma criança.
A parte que não é julgada pelos seus erros.
O mais incrível de tudo é que, por mais que vôce tente não julgar o próximo, isso sempre vai acontecer.
Inclusive quando for você.
Queria ser a parte frágil.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Rende

A tristeza rende.


Sempre que estou triste, é quando me surgem os melhores textos. A tristeza é assim, um motor de palavras.

Sempre que estou triste, converso muito comigo mesma, e me conheço melhor. É fácil julgar o outro. Difícil mesmo é julgar a si mesmo.

Sempre que estou triste, descubro um lado escuro de mim. Tenho medo dele, e tento melhora-lo cada vez mais.

Sempre que estou triste, tenho coragem de chorar profundamente. Admito que sou um ser frágil, que precisa de um tempo pra si mesmo.

Sempre que estou triste, admito os meus erros. E me envergonho de muitos deles.

Sempre que estou triste, reconheço os melhores amigos. E as vezes eles surgem de onde menos se espera.

Sempre que estou triste, encontro as melhores soluções pros meus problemas.

Sempre que estou triste, logo em seguida encontro alguém que está pior do que eu, e sempre me envergonho por me sentir triste.

Sempre que estou triste, encontro motivos pra ficar alegre. As vezes leva um tempo, mas eles estão lá.

Sempre que estou triste, eu me torno uma pessoa melhor. Pelo menos, tento.

Acho que é isso, sim.

A tristeza rende.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A morte

Eu sou aquela que é o seu pior pesadelo. O seu medo oculto.

Eu sou o seu maior temor, a sua maior revolta, a sua maior saudade.
 Eu sou aquela que te faz sentir saudade.
 Aquela que te faz pensar no tempo.
Eu sou o tempo,o pouco que resta a você do que fazer com ele.
Infelizmente, eu sou o seu maior esquecimento.
Aliás, não sei nem como você consegue esquecer disso.
Os humanos têm uma coisa assim, de esquecer, de deixar pra lá as coisas com que não sabem lidar muito bem...
Tão tolinhos!
É, humanos são assim mesmo. Se acham a vida inteligente do universo. Quanta inteligecia têm em enganar a si mesmo?
Vocês vivem fazendo isso.
No final, eu vencerei.
Sempre.
No dia em que isso não acontecer, este mundo deixará de ser purgatório e será promovido à inferno.
Eu só cumpro a minha função no mundo.
Então,não venha me culpar se você não aproveita seu tempo, certo?
Desista de me sabotar. E talvez você seja um daqueles poucos que ainda conseguem empatar o jogo dizendo: "Aproveitei tudo o que podia".
Não pense que fico triste ouvindo isso.
Pelo contrário, fico feliz. Faz o meu trabalho ser menos doloroso para você.
Pena mesmo é tirar um ser pensante do mundo.
às vezes lamento, estendo o prazo, pra ver se ele consegue dar algum exemplo e convencer mais alguns, mas nem sempre dá.
Obedeço ordens superiores.
Então, o que você vai fazer do seu tempo agora?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Primeiros pacientes

Antes de me formar sempre me perguntava qual seria o meu primeiro paciente. Imaginava seu rosto.

Imaginava se teria muitos problemas, a até onde eu poderia ajudá-lo.  E até arriscaria um super diagnóstico.


Se me perguntassem hoje, eu tristemente iria dizer: “não lembro”.  Nem sei quantas consultas, nem todos os diagnósticos. A medicina é assim, invasora. Não que eu não goste de me sentir invadida as vezes.

Quer saber coisas das quais não esquecerei? O primeiro paciente que perdi. Aliás, a primeira paciente.  Ela, senhora distinta, seus 70 e poucos anos. No salão de beleza, num dia da semana. Ela era apenas uma senhora a fazer seus cabelos, e eu apenas uma estudante, indo pro cinema e indo visitar a mãe no trabalho. No salão de beleza.

Eu era um nada. Eu era o nada. Terceiro ano de faculdade, eu nem tinha ainda peso nas costas. Eu nem sabia o que era isso.

Ela parou. Foi assim de lado, se jogando para o chão, se despedindo da vida a cada segundo que se passava.

E eu, um nada, no terceiro ano, encontrei o meu peso nas costas.

Fui chamada para interceptá-la. Para lutar por ela. O nada andou em sua direção, dois segundos e um toque, o nada já sabia o que estava acontecendo. Ela parou, nos meus braços, e eu nem sabia o que era isso.
Mais alguns segundos para eu me tocar que tinha de fazer alguma coisa. “Mas o que, meu Deus?”. Olhei para meus dois amigos, estudantes, que me acompanhavam, e não vi olhos. Vi um espelho de tudo aquilo que se passava dentro de mim.

Abrir a boca, respirar por ela, colocar as mãos em seu peito, um, dois, três... Ser o coração de alguém não é uma tarefa muito fácil...

Até me interromperam. Um ser se disse médico. Mandou transportá-la de lá.  Eu sabia que  aquilo estava errado. Eu sabia que alguma coisa estava errada. Mas eu era apenas uma estudante de medicina.  A estudante, agora com o peso nas costas.

O fim já se sabe. É o fim, e basta dizer isso.

A primeira paciente que perdi se foi, e eu nem era médica, muito menos ela era a minha paciente. Contudo, o que ela me deu, ficou em mim para sempre: o peso nas costas.

Todo médico que se preze o carrega. Com o tempo ele fica mais fácil de carregar. Com o tempo você se torna uma pessoa mais forte. Mas no fundo, todo bom médico sabe bem do que eu estou falando.

 Devem estar se perguntando: “Se é tanto peso assim, porque fazer medicina?” Eu bem vos digo.
A primeira paciente que ganhei também não era minha. Eu também era uma mera acadêmica, desta vez no quinto ano. Demorei, dois anos, com o peso nas costas, de tal forma que minha coluna já estava ficando torta. Ela chegou na hora certa.

Com 37 semanas, 53 centímetros. Eu fui a primeira pessoa que ela viu no mundo. Fui a primeira pessoa que viu seu respirar, a primeira a saber que ela estava viva, e bem.

E esse dia eu também não esqueço.

No fundo acho que todo médico, só se torna um médico de verdade, no dia em que ganha o seu precioso peso nas costas.

Dói um pouco, incomoda, as vezes, mas é ele que nos faz mais fortes, que nos lembra que estamos vivos e que temos essa missão no mundo.

Seja em qualquer profissão, o importante mesmo é descobrir qual a sua função no mundo.

Se você não concorda com isso, bem, então, viva na sua bolha. Sót não se esqueça que um dia ela pode estourar.