“Soft Watch at the Moment of First Explosion”, Salvador Dali, 1933
Um dia eu acordei e tive dúvida sobre a vida.
Fiquei com medo. Tornei-me cética.
Era centrada, com linhas e passos a calculadamente dados.
Eu era o centro.
Comecei então a olhar o mundo com uma penumbra constante que caía sobre todas as coisas.
Eu era sombra.
Pensava com os números. Calculava as razões e agarrava-me às leis das probabilidades.
Eu era números.
A pessimista escondida pelos trajes do realismo.
A grande verdade é : eu tinha medo.
Medo pelos outros? Medo dos outros? Medo de ser julgada? Condenada por não conseguir?
Não.
No fundo o motivo era único.
Tinha medo de mim mesma.
Já aprendi a conviver um tanto com o julgamento dos outros que isso já não nem me incomoda tanto quanto antes fora uma dia.
O que me incomodava mesmo é eu não saber lidar muito bem com as dececpções que eu mesma criei.
Não aceitar para mim que não fora possível.
Fui incapaz.
De como eu reagiria diante do não.
Tinha medo do não.
Os homens não nasceram para aceitar o não
E me envolvi na capa do ceticismo por ter medo de ter esperança.
Porque os nãos são mais difíceis para quem tinha esperança antes.
Eu era centro, sombra e pessimismo.
E o pessimismo alimentava falta de coragem.
E a falta de coragem alimentava o insucesso.
A grande ironia é que era vítima dos meus próprios medos.
Até a luz chegar.
Ela entra assim, de repente em nossas vidas. Sem pedir. Sem avisar.
É como se Deus tentasse te mandar o tempo todo. Subliminares no espaço.
Um livro.
Uma música.
A decepção.
O tempo.
Subliminares que surgem e podem nos fazer mudar.
Entretanto, aquele que está involto nas sombras e não quer sair fechará os olhos perante qualquer luz.
A luz.
Num disco.
Num gesto
No afeto.
Num amigo.
Nesses dias de luz, a gente não tem dúvidas sobre a vida.
Basta que você caçe a luz.
Mas seja delicado, veloz e decidido.
Pois Oportunidades são penas, que caem oblíquas à corrente de ar...
Não espere uma trajetória linear...
Quando olhamos vários pontos de perto, podemos não estar à uma distância sufuciente para exergar a imagem..
Já diziam as leias da física.
Traços se cruzam no infinito
Tempo muda como a velocidade da luz
Porque a vida é assim, enigmática.
Os traços, os riscos e rabiscos poderão sempre ser luz.
A escuridão pode ser luz.
Pois só no escuro a fresta aparecerá.
E só com o negro saberemos que o branco existe, e que ele é a reunião de todas as cores.
Acredito nas leis da física.
Nas leis das probabilidades.
E sei que numa hora desses, a moeda cairá do lado contrário.
E neste dia estarei mais forte, pois já conheço a escuridão.
A moeda mudará de lado.
É só uma questão do número de jogadas.