quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Cartas do Pequeno Príncipe - A Rosa



"Eu odeio a Rosa!"
Na primeira vez em que eu li o Pequeno Príncipe de verdade, foi o pensamento imediato que me surgiu no momento em que fechei o livro. 
"Ora, o príncipe só morreu por causa dela. Essa vaca!"
Sim, eu estava revoltada.
Como uma Rosa pode fazer tão mal à um Príncipe? Como pode uma coisa dessas? 
Mas como toda fábula que se preze, esse pensamento me consumiu de tal forma que tive que ler de novo. E de novo. E mais uma vez. Até hoje, me vejo repassando passagens, sempre que alguém vem discutir algo a respeito. 
As pessoas estão acostumadas a opor-se por coisas que nao conhecem bem. Em caso de Príncipes, eu não permito.
E desatino a estudá-lo novamente.
E cada uma das vezes que leio, descubro coisas novas a respeito de algumas linhas, como num livro mágico que esconde certos trechos para certas ocasiões. 
O Pequeno Príncipe, foi assim, meu livro mágico.
E acho que as coisas mudam de acordo com o que você está vivendo aqui fora. É isso mendaz entender enpesnar melhor a respeito da vida.
Verdade mesmo é que no fundo eu sempre tive um recalque com a Rosa. 
A Rosa, representação da beleza, sim, beleza exterior? Beleza aos olhos do mundo? Eu sempre tive meu recalque com as mulheres muito bonitas. Para mim, a vida para elas sempre foi mais "fácil" no mundo em que vivemos, superficial e materialista. Já explica parte da implicância.
A Rosa, representação do que era uma coisa única e especial naquele mundo do Príncipe, que depois ele vai descobrir que existem tantas outras, outras até mais bonitas, tecnicamente falando. Outras mais jovens. Outras mais interessantes. Mas elas não são sua Rosa. Pois foi ele quem fez ela única no mundo.
Dai comecei a perceber que a "Culpa" na verdade era dele. Foi ele quem escolheu uma rosa vaidosa. Talvez naquele mundo, ele não tivesse mesmo muitas opções. Aquela era a relação que lhe foi oferecida. Ele agarrou com todas as forcas. Cuidou dela. Até o ponto de não aguentar tamanha vaidade e tamanhos defeitos, que abandonou a Rosa.
A Rosa na verdade foi abandonada. 
Enquanto isso, o Príncipe viajava. Saiu por aí, dasatando outros mundos. Conheceu gente de todo tipo. Aumentou sua visão. Viu o melhor e o pior do ser humano. Conheceu uma Raposa, amiga mais sabia e menos problemática que aquela Rosa, construiu um amor profundo e sólido com ela. Amor tamanho que até a lidar com a Rosa, e entendê-la, até isso a Raposa ensinou.  O Príncipe na verdade crescia. Estava deixando de ser criança aos poucos para se tornar o Rei de seu mundo. 
Enquanto isso, a Rosa estava lá no mundinho anterior.
De certo que sentiu falta do Príncipe, o qual já não estava lá para fazer seus mimos e desejos. Decerto que enfrentou um bom perrengue, frio, calor, fome e sede. E sem alguém pra cuidar dos baobás, será que não foi sufocada pelas entranhas das raízes de quem sempre quer te sugar? No fim das contas, acho que a Rosa sofreu mais que ele. Porque sofreu sozinha, abandonada a própria solidão que quem não consegue sair do mesmo lugar...
Daí comecei a ficar com raiava do Pequeno Príncipe. Enquanto ele viajava, a outra morria. 
Como é possível às vezes termos que nos afastar ou perder alguém para dar valor ao que tínhamos? 
Por que teimamos em sentir falta do que não temos ou não podemos ter mais? 
Seres humanos. Mesmo os Príncipes e as Rosas são bem humanos nisto...
Eu já estava desistindo de um final feliz quando a Cobra apareceu. A Cobra que me dava medo, no início, na verdade acho que significava o fim da jornada. O fim da infância. O fim do medo, do receio. A maturidade. 
Só assim, o agora Rei e a Rosa se encontrariam. Mais maduros, mais sofridos. Cheio de calos e espinhos? Talvez. Mas acredito que o coração do Príncipe era puro, não levaria isto para lá. 
Talvez agora o Rei encontrou com a Rosa. Ela percebeu o quanto sua vaidade tola era ridícula, e o quanto és era egocentrica. E ele, bem, ele já aprendera muito sobre o mundo, e sobre o verdadeiro Amor com a Raposa. E agora ensinaria para ela sobre o mundo do coração do lado de lá.
Assim se foi o meu ódio pela Rosa. 
 
 

sábado, 3 de outubro de 2015

Préconceito

Foi quando eu simplesmente defini a diferença entre o amor e a paixão para mim. 
Certo dia, naqueles de fossa ou dor de cotovelo, me pus a conversar com um daqueles amigos loucos mais certos que a gente tem. Eu estava lá reclamando as pitangas de como meu coração estava partido, de como eu sofria com aquela separação de um relacionamento que já não me fazia bem. Mas, se não fazia mal, que mal tem? 
O Louco mais certo me mandou uns links de uns vídeos de um sociólogo comentando a respeito.
Conceitos tão simples, que conseguimos afundar nas profundezas do nosso abstrato.
Eu vi o vídeo e nem acreditei em mim mesma, o quanto eu estava confundindo meus sentimentos, o quanto eu era capaz de enganar meu cérebro frente à tantos sentimentos em conjunto. 
É nesse dia que a Idade chegou. 
Já sabia eu que o Amor era assim puro e verdadeiro, que era o querer bem alguém.
Que era o fazer ao próximo aquilo que queria que fizessem comigo. 
O problema sempre foi a paixão...
A paixão na minha história sempre envolveu uma dose de dor e de trágico, quase o teatro inglês pós renascença, com todo o drama e comédia que se pode estar envolvida.
Minhas paixões, historicamente, sempre foram respresentativas de dor para mim. 
Uma escolha nova. Uma falta de opção.  Uma separação. Um desafeto. Uma divergência. Uma escolha velha. Uma opção.
Sempre meus casos de paixões anteriores eram envolvidos com uma boa e velha dose de dor e de cachaça pós tortura, como se isso cacatrizasse as fedias da minha alma. Anestesiava por um tempo, porém depois o álcool descia fundo nestas feridas, e abria buracos às vezes mais fundos dos que eu tinha quando comecei.
Então doía. Sim, doía. É por doer assim que eu pensei que eu estava  apaixonada. So que não. 
Dor é dor. 
Paixão é paixão. 
Eu tinha esquecido desse princípio básico: o conceito das coisas.
Eu o amava.
Eu sentia dor. 
Eu o amava e doía. 
Mas não estava apaixonada....
Se pudesse definir a minha paixão, diria que são as borboletas. Aquelas famosas embrulhadas no estômago. O frio na barriga. O quente em outro lugar.
O desejo. O ensejo. O imã de corpos. A vontade cega de estar nas proximidades daquela aura.
Definir isso abriu tanto meu mundo que acho que meu coração jamais foi o mesmo desde então.
Coisas que só o amigo Louco certo ensina. 

A paixão é o vestido de festa, é a capa que te atrai, ou te cega. 
O amor são as folhas do livro, é o conteúdo de cada dia. 
Um livro pode existir sem a capa. Essa capa com o tempo fica assim, borrada é velha, mas sempre remeterá aquele momento em que você viu o livro. 
Uma capa pode existir sem o livro. Vai ser bonita, útil às vezes para outros fins, mas sem um destino, fica assim vazia. 
Até um dia que encontre um livro que encaixe na estante. 
Depois disso, ler minha alma ficou mais fácil pra mim.