Um dia disseram a ela que existia um príncipe encantado. Colocaram-no num cavalo branco. Fizeram-na brincar de boneca. Malditas bonecas. Fizeram com que ela sonhasse e até bricasse com a existência dele. Ela sonhou. Esperou por um tempo. Esperou.
Até certo ponto de sua infância e pré-adolescência ela o esperava. Chegou até apensar que uns e outros eram "Ele", mas sempre tinha algo que não se encaixava muito bem...
Um dia, alguém muito parecido veio, e, pelos primeiros cinco minutos, agiu como se o fosse. Ela se encantou. Não entendeu nada. Sentiu o corpo arrepiar. O coração bateu forte. As pernas tremeram sem saber o que fazer. Ela não sabia o que era aquilo.
E sentiu então, pela primeira vez, as borboletas no estômago.
Sim, as tais das borboletas. Se podia ter uma certeza disso tudo, essa seria: das borboletas. Elas existem. Às vezes elas vêm na hora errada, as vezes elas nem estão no estômago mais. As vezes, e se contarmos, na grande maioria delas, surgem com a pessoa errada, no lugar e situações mais inapropriadas possíveis. É inevitável. O tremer por dentro era mais forte do que ela. Um medo misturado com prazer, uma ânsia, misturada com euforia.
A gente não escolhe quando as borboletas surgem, elas é que escolhem o "Ele".
Só que borboletas cegam. Ela não sabia disso ainda, mas iria descobrir. Todas descobrem.
Enquanto as borboletas continuavam ali, ela não conseguiu pensar.
E como todo conto há de ter sua bruxa ou lobo mal na espreita, ela pensou que quando a outra surgiu estivesse apenas cumprindo seu papel. Mas a outra era apenas mais uma princesa, que resgatou o principe dela.
Ela sabia que príncipes não eram resgatados.
E então, aí, ela finalmente começou a desconfiar das histórias.
Ela esperou. Afinal, toda história que se preze tem seu sacrifício por parte da princesa. "Talvez ainda haja esperança". Esperança. Esperar.
Mas isso não o fez o certo "Ele". Aliás, o "Ele" nem existe. O que é certo ou errado? Não querer alguém que te queira? Não querer permanecer o resto da vida com uma única pessoa?
Uma questão de preferências.
Demorou um tempo, até que ela desfizesse toda a ilusão. Muitos "príncipes" depois, ela ainda aprendia.
Ela aprende até hoje. Até que não procurasse mais nenhum.
Mas eu não a culpo. Fomos criadas assim. Nascemos no meio de histórias de fadas. Fizeram-nos acreditar, e gostar do amor, sem nem sabermos sequer o que era, e se ele existia.
A maioria de nós passará uma vida toda sem descobrir. Não aquele amor de sonhos, utópico, fruto de toda uma aura de imaginação.
O amor, meus amigos, é algo simples que o homem não entende. É nobre e humilde. É um complexo de pequenas atitudes. Nada mais natural do que não haver exclusividade do sentimento em um único ser humano.
Mas não podemos confessar tudo. Não peça para uma mãe ensinar para a filha a realidade do mundo atual. Ela seria uma menina pessimista, astuta e fria. Não seria uma criança.
E as borboletas? Estão lá, quietas. Surgindo nela naquele que não liga. Naquele que ficará distante. Naquele complicado. No que não pode te encontrar. No que não quer fazer isso. Naquele que você não pode ter.
Minha dica é: curtam as borboletas. Só elas nos fazem sentir vivos de verdade. Mulher foi feita organicamente para receber, cuidar e ser amada por isso, mas estamos tão acostumadas aos desafios da vida, que às vezes nos esquecemos disso. É bom ser frágil. E bom ser cuidada. É bom ser menina algumas vezes.
Contudo, não se deixem jamais serem violadas. E se algum homem puder me ouvir: respeitem as borboletas. Cada decepção que acontece, uma parte delas morrem. Por isso existem tantas mulheres vazias por aí.
Curtam, mas não matem as borboletas.
Mulher de verdade sabe como a vida é e a encara de frente. Mas com as borboletas por dentro.
Nós precisamos delas.
Eu já matei a última borboleta. Sei disso.
ResponderExcluirAdorei o post...